
POR DENTRO DO SETOR – CONSUMIR TEM SIDO UM DESAFIO
24 mar 2021
O biênio 2020/2021 trouxe uma série de mudanças na forma com que nos relacionamos com o consumo. Termos técnicos e/ou específicos de setores passaram a fazer parte do repertório das pessoas, como atividades essenciais, protocolos sanitários ou nível de eficácia. Esse mindset de aprendizado trouxe novas experiências, novos olhares para as coisas simples do cotidiano e uma grande busca por solução de problemas e alívio do impacto das restrições nas mais diversas áreas da vida. Esse olhar passa por alimentação, cuidado com a casa, saúde da família, trabalho remoto, redução do poder de compra, falta de emprego, saúde mental, etc. Os impactos são tão grandes que a pauta do evento americano Retail’s Big Show, da NRF,*passou por 5 grandes temas em janeiro de 2021: bem-estar das equipes nas empresas; responsabilidade social e sustentabilidade; consumidor moldando o futuro do varejo; loja física como parte fundamental desse futuro; tecnologia e varejo trabalhando em conjunto.
Os primeiros temas, sobre bem-estar e saúde mental dos colaboradores, responsabilidade social e sustentabilidade, são questões globais e devem ser acompanhadas com muito cuidado também no Brasil, onde os índices de pessoas preocupadas com a pandemia são maiores na comparação com outros países, como indica esta pesquisa da GWI:
Fonte: Global Web Index (EUA, Reino Unido, Brasil, Japão, Alemanha, Itália, China e Índia).
A data da pesquisa não cobriu o período mais agudo da pandemia até o momento no Brasil, em março/21, onde os índices tendem a ser ainda maiores. O mesmo estudo mostrou como, em dezembro de 2020, o brasileiro também estava muito menos otimista com a superação da pandemia do que os demais países pesquisados (-59%).
O longo período de receios e a necessidade de rápida adaptação trouxeram reflexões e expectativas das pessoas sobre qual o papel das grandes empresas, seja enquanto trabalhadores ou consumidores. Consultorias de tendência projetam consumidores cada vez mais planejados e questionadores sobre seus gastos e forma de consumo. Com restrição de circulação, as pessoas passaram a se organizar melhor, calcular as quantidades de produtos necessárias para determinados períodos de tempo, juntar necessidades diferentes para concentrar em compras únicas e economizar frete, etc. Esse comportamento desperta naturalmente atitudes mais sustentáveis, e a relação com o consumo muda. O significado de cada tipo de categoria se transforma.
Ao mesmo tempo, é projetado também um futuro onde a busca por experiências significativas seja mais presente. Se de um lado o aspecto racional é despertado pela escassez – seja de tempo, liberdade de deslocamento ou recursos – de outro, o medo e a diminuição da vida social, do entretenimento e atividades externas também provocam uma maior valorização de tudo isso. Essa valorização amplia a expectativa do consumidor por novas experiências, o tornando mais sensível a ações que agreguem sensações e vivências atreladas ao consumo.
Os demais temas presentes na NRF, citados no início deste texto, se aprofundam em aspectos da experiência do consumo no último ano e quais consequências e perspectivas isso traz para os negócios. A adoção das compras online acelerou de forma impressionante, tanto do ponto de vista de novos consumidores quanto do ponto de vista de frequência de compras. Conveniência e disponibilidade das soluções como aplicativos de entrega rápida e velocidade no frete dos marketplaces conquistou até quem tinha mais resistência às compras online. Mas a reflexão sobre o relacionamento com o consumo é constante.
Dados de uma pesquisa feita pelo time de Inteligência de Mercado da Globo mostram que a experiência de compra, seja física ou digital, é importante para a maioria dos consumidores. O mesmo nível de importância é visto no relacionamento dos consumidores com a loja física enquanto local de conhecimento e experimentação de novos produtos.
Fonte: Globo | MindMiners | fev/2021 – 500 respondentes | internautas ABC 18+
A mesma pesquisa mostra que, do ponto de vista de preferência por canal, a loja física é mais valorizada por parte dos consumidores. Mas essa fronteira entre físico e digital deve diminuir cada vez mais. Quando questionados sobre onde pretendem fazer suas compras em 2021, o maior volume é de pessoas que pretendem comprar tanto online quanto offline. Os números variam por tipo de produto, mas, mesmo categorias mais fortes em venda no digital, como games e smartphones, possuem maioria dos consumidores considerando compras omnichannel. Na outra ponta, compras de mercado apresentam uma maioria esperada de consumidores declarando preferir canais físicos. Mesmo assim, acima de 20% consideram comprar nos dois canais.
Essas reflexões todas nos fazem ter uma dimensão dos desafios que vêm pela frente. Novos hábitos, com base em novos conhecimentos, necessidades ou ferramentas, auxiliam o consumidor na tomada de decisão. A comunicação evidencia os produtos e serviços e serve de estímulo para o aprofundamento ativo do consumidor, que cada vez mais questiona a cadeia de valor e papel das marcas.
*a americana NRF, ou National Retail Federation, é a maior associação mundial de players da indústria de varejo. Seu evento “Retail´s Big Show” está entre os mais importantes e influentes do setor.
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